"MANDALA"

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quinta-feira, 3 de julho de 2014

## CARTA DO CACIQUE SEATLE

    
CARTA DO CACIQUE SEATLE AO PRESIDENTE DOS EUA

A carta de 1854 do Cacique Seatle ao Presidente dos Estados Unidos da América

"O Grande Chefe de Washington comunicou-nos o desejo de comprar as nossas terras. O Grande Chefe assegurou-nos também da sua amizade e de quanto nos preza.
Isso é muito generoso da sua parte, pois sabemos que ele não necessita de nossa amizade.

Porém, vamos considerar a sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará nossas terras.

Mas, como pode  vender ou comprar o sol e o calor da terra? Tal idéia é estranha para nós.

Se não somos os proprietários da pureza do ar ou do resplendor da água, , como podes comprá-los à nós?

Cada torrão desta terra é sagrado para o meu povo. Cada folha reluzente do pinheiro, cada praia arenosa, cada clareira e cada zumbido de inseto, são sagrados nas tradições e na memória de meu povo.

A seiva que carrega nas árvores traz comigo as recordações do homem de pele vermelha. O homem branco esquece a sua terra natal, quando, depois de morto vai vagar por entre as estrelas.

Os nossos mortos nunca esquecem a beleza desta terra,  pois ela é a mãe do homem da pele vermelha.Somos parte destas terras, como elas fazem parte de nós. 

As flores perfumadas são nossas irmãs, o veado, o cavalo, a grande águia são nossos irmãos. As cristas rochosas, as seivas das pradarias, o calor que emana do corpo de um pônei  e o próprio homem, todos pertencem à mesma Família.

Assim, quando o Grande Chefe de Washington manda dizer que deseja comprar nossa terra, ele exige muito de nós.

O Grande Chefe manda dizer que nos reservará um lugar em que possamos viver confortavelmente, e que será para nós com um pai, e que nós seremos seus filhos.

Vamos considerar a sua oferta de comprar a nossa terra, embora isso não seja facil, pois esta terra é sagrada para nós.
A agua cintilante dos rios e dos regatos não é apenas água. É o sangue dos nossos antepassados.

Se vendermos s nossa terra, terás de te lembrar que ela é sagrada e deverás ensiná-lo aos teus filhos, e fazer-lhes saber que cada reflexo na água límpida dos lagos, fala do passado e das recordações do meu povo.

O murmúrio das águas é a a voz do pai de meu pai. Os rios são nossos irmãos, matam-nos a sede, transportam-nos nas canoas e alimentam os nossos filhos.

Se vendermos a nossa terra, terás de te lembrar e ensinar aos teus filhos que os rios são nossos e vossos irmãos, e terás de dispensar-lhes a bondade que darias à um irmão.

Nós sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um pedaço de terra vale o mesmo que outro, porque ele é um forasteiro que chega na calada da noite e tira da terra, tudo que necessita.

A terra não é sua irmã, mas sua inimiga, e depois de a conquistar, prossegue o seu caminho. Deixa para trás as sepulturas dos seus antepassados, e isso não o importa.

Apodera-se das terras de seus filhos e isso não o inquieta. Ele considera a terra, sua mãe e o céu, seu irmão, como objetos que podem ser comprados, saqueados ou vendido como ovelhas, ou miçangas cintilantes.

Na sua voracidade arruinará a terra e deixará atras de si apenas um deserto. Não sei, nossos caminhos diferem dos vossos. 

As vossas cidades ferem os olhos do homem de pele vermelha. Não há lugares calmos nas cidades do homem branco. Não há sítios onde se possa ouvir as folhas a desabrochar na primavera ou os unir das asas dos insetos.

 O barulho que tudo domina, ofende os ouvidos do homem de pele vermelha.

Para que serve a vida, se um homem não pode escutar o grito solidário do noitibó ou a lenga-lenga noturna das rãs, à volta de um pântano?

Sou um homem de pele vermelha e não compreendo, talvez porque os homens de pele vermelha são selvagens e ignorantes.

O índio prefere o suave sussurro do vento roçando a superfície de uma lagoa e o perfume do ar lavado pela chuva do meio dia, ou carregado do aroma dos pinheiros.

O ar é precioso para o homem de pele vermelha, porque todas as criaturas partilham a mesma aragem. Os animais, as árvores, o Homem, todos respiram o mesmo ar.

O homem branco parece indiferente ao ar que respira, como um moribundo em prolongada agonia, ele é insensível ao ar fétido.


Mas, se vendermos as nossas terras, deverás recordar que o ar é precioso para  nós. Que o ar reparte o seu espírito com toda a vida que ele sustenta. O vento que deu o primeiro sopro de vida ao nosso antepassado, recebe também o nosso último suspiro.

Se vendermos as nossas terras deverás conservá-la como um lugar
reservado e sagrado, onde o próprio homem branco, possa saborear o vento, perfumado pelas flores da pradaria.

Assim, pois, vamos considerar a oferta para comprar a nossa terra. Se decidirmos aceitar, será com uma condição: o homem branco deverá tratar os animais desta terra como se fossem os seu irmãos.

Sou um selvagem e não compreendo outros costumes. Eu ví milhares de búfalos a apodrecerem na pradaria abandonados pelo homem branco, que os abatia de um comboio em movimento.


Eu sou um selvagem que não compreende que o cavalo de fero fumegante possa ser mais importante do que o búfalo para nós.

Nós, os índios matamos apenas para o sustento de nossa vida.

O que seria do homem sem os animais, se todos os animais desparecessem o homem morreria de uma grande solidão de espírito, porque tudo quanto acontece aos animais, não tarda a acontecer aos homens.

Todas as coisas estão relacionadas entre si. Deverão ensinar aos vossos filhos, que o chão debaixo dos seus pés, é feito das cinzas dos nossos antepassados.

Ensinem aos vossos filhos, o que temos ensinado aos nossos: que a terra é nossa mãe. Tudo quanto fere a terra, fere aos filhos da terra. Se os homens cospem no chão, é sobre eles próprios que cospem.

Uma coisa sabemos; a terra não pertence ao homem... é o homem que pertence à terra. Disso temos certeza.

Todas as coisas então interligadas, como o sangue que une uma família. Tudo está relacionado entre si. Tudo que acontece  à terra, acontece aos filhos da terra.

Não foi o homem que teceu a teia da vida. Ele não passa de um fio da teia. Tudo que ele fizer à trama, à si próprio fará.

Mas, nós vamos considerar a vossa oferta e ir para a reserva que destinais ao meu povo. Viveremos à parte e em paz. Que  nos importa o lugar onde passaremos o resto de nossos dias? Já não serão muitos, ainda algumas horas, alguns invernos e não restará qualquer dos filhos das grandes tribos, que viveram outrora nestas terras.

Ou que vagueiam ainda nas florestas. Nenhum estrá cá para chorar às sepulturas de um povo tão poderoso e tão cheio de esperança como vós.

Mas, por que chorar o fim do meu povo? As tribos são constituidas por homens e nada mais, e os homens vão e vem como as vagas do mar.

Nem o próprio homem branco pode escapar ao destino comum. Apesar de tudo, talvez sejamos irmãos. Veremos. Mas, nós sabemos uma coisa: que o homem branco talvez venha a descobrir, um dia, o nosso Deus é o mesmo Deus. Ele é o Deus dos homens, e a Sua Misericórdia é a mesma para o homem de pele vermelha e para o homem branco.

A terra é preciosa aos olhos de Deus, e quem ofende a terra, cobre o seu Criador de desprezo. O homem branco perecerá também, e quem sabe antes de outras tribos.

Continuem a macular o vosso leito, irão sufocar nos vossos desperdícios, mas na vossa perdição, brilhareis em chamas ofuscantes acendidas pelo poder de Deus, que vos conduziu e que por desígnios só por Ele conhecidos.

Vos deu o poder sobre estas terras e sobre o homem de pele vermelha. Este destino é para nós um mistério. Não o compreendemos quando os búfalos são massacrados.

Os cavalos selvagens subjugados. Os recantos secretos das florestas ficam impregnados do odos de muitos homens e as colinas desfiguradas pelos fios falantes.

Onde está a floresta virgem? Desaparece!. Onde está a águia? Morreu!
Qual o significado de abandonar os pôneis e a caça? É parar de viver e começar a vegetar.

É nestas condições que vamos considerar a oferta da compra de vossas terras, e se aceitarmos, será apenas para ficarmos seguros de recebermos a reserva que nos prometeram. Talvez ai, possamos acabar os nossos dias, e quando o último homem de pele vermelha tiver desparecido desta terra, 
e a sua recordação não for mais do que a sombra de uma nuvem
deslizando na pradaria, estes lugares e estas florestas abrigarão
ainda os espíritos do meu povo.

Assim, se vendermos as nossas terras, amai-as como as temos amado e cuidai delas como nós cuidamos. E com toda
a vossa força e o vosso poder, conservem-na
para os teus filhos e amem-na como DEUS nos
ama à todos.

Sabemos uma coisa: o nosso Deus é o mesmo Deus. Ele ama esta terra. 
O próprio homem branco não pode fugir ao mesmo destino. Talvez sejamos irmãos, veremos.

Os Índios Duwamish habitavam na zona norte do atual estado de Washington, cuja capital SEATLE , tem o nome do Chefe Índio que proferiu o discurso conhecido como 

A CARTA DO CHEFE ÍNDIO

que é considerada como um dos mais belos manifestos ecológicos.

Após a cedência das terras, os índios Duwanish migraram para a Reserva Port Madison, onde está sepultado o CHEFE SEATLE.

Eu posto com muito AMOR
Maria Luiza Bäurich

MITAKUYE OYASIN - "Por Todas As Nossas Relações"


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